quinta-feira, 29 de março de 2007

Mitos

Há dois mitos sobre a amizade masculina que nunca compreendi. O primeiro é o das amizades especializadas ou selectivas. Homens que se tornam amigos de outros homens com um propósito escolhido, como experimentar a natação sincronizada, gostar da música de Cat Stevens ou debater a revolução russa. De acordo com este mito, não pode haver transgressões na amizade masculina. Os amigos são apenas para certas alturas, no sentido em que são para umas e não para outras. Os amigos do squash ou de qualquer passatempo domingueiro não são os que encontramos nos congressos sobre poesia francesa. A única forma de garantir a permanência dos amigos, a sobrevivência das amizades é que evitar que elas se misturem através dessa espécie de arrumação pessoal, de arquivismo humano. O amigo selectivo é um arquivista. Não tem amigos mas ficheiros. A sua vida é meditada e planeada como uma arrumação de ficheiros. Há um segundo mito também errado sobre a amizade entre homens. Já aqui disse isto: a amizade não pode ser uma relação entre iguais. A amizade só pode ser uma experiência desequilibrada e anti-igualitária. Para não fracassar é preciso que duas pessoas aceitem o seu lugar na hierarquia. Um tem de ser mais inteligente do que o outro. Um mais bonito do que o outro. Um mais rico do que o outro. Um mais capaz do que o outro.

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